20 de julho de 2018

Meus casacos favoritos

Organizando alguns arquivos, encontrei fotos de variados anos todas misturadas. Entre elas duas me chamaram a atenção. 
Na primeira eu estava vestindo um casaco cinza, de tecido em plush e alguns detalhes em preto, onde eu estava tomando meu danone com bolachinhas recheadas. Naquele ano esse era, sem sombra de dúvidas, o meu casaco favorito.
Na segunda eu vestia um casaco preto, todo preto com alguns botões grandes e pretos, onde eu estava sorrindo ao lado de grandes amigos. Ele era como um sobretudo e, sobretudo, com certeza era meu casaco favorito naquele ano também.
Você deve imaginar que casacos favoritos são guardados para sempre, passados hereditariamente e usados mesmo que furados. Esse certamente era o meu plano para estes meus casacos favoritos. 
Acontece que a vida é muito engraçada e... Eu sempre perdi meus casacos favoritos.
O primeiro deles que descrevi acima, teve um fim muito engraçado. Lembro bem do dia em que minha mãe me presenteou com ele e, depois de alguns meses, ao colocá-lo para lavar, ela errou o produto e o coitado ficou desbotado. Chorei tanto que no dia seguinte ela havia reservado um casaco idêntico na mesma loja em que havíamos comprado. Lá estava eu com meu primeiro-segundo casaco favorito. 
Passados alguns dias, fui para o colégio trajando meu favoritismo e ao retornar para casa depois de um longo dia me dei conta de que estava faltando alguma coisa. Era meu casaco que nunca mais seria encontrado. 
O segundo, todo elegante, comprei com meu salário e era uma das minhas peças chaves do guarda-roupas, o casaco perfeito para qualquer ocasião. Numa dessas ocasiões, fiz uma viagem para Curitiba e, logicamente ele me acompanhou. Mais uma vez, ao retornar para casa com a mesma sensação de meados daquele ano passado. Eu havia perdido meu casaco favorito. De novo. 
De vez em quando me pego imaginando que outro fim teriam meus casacos favoritos se não fossem perdidos. Teria eu os desfavoritados? 
Em meio a um casaco favorito e outro, chego a conclusão de que casacos são como abraços. Moldados, aconchegantes, quentinhos e especiais.
E, ao fazer essa comparação, me questiono quantos casacos, digo, abraços eu perdi na vida. Tanta gente passa pela gente, deixa um abraço e se perde. 
Os motivos são tantos que eu não conseguiria os elencar aqui, mas todos eles deixaram além das fotos, inúmeras saudades e uma sensação de vazio. Assim como os meus casacos. 
Por onde será que andam os meus casacos? E os meus abraços? Espero que tenham encontrado novos donos e carreguem em si um pouquinho de mim, assim como eu os carrego e os espalho em busca de novos sem fim. 
Eu sempre perdi meus casacos e meus abraços favoritos. 


Nathalia,
procurando casacos e abraços perdidos.