13 de agosto de 2016

Dia desses encontrei com ele no metrô

Dia desses encontrei com ele no metrô. Nos entreolhamos distantes por alguns minutos, acenei timidamente e ele se aproximou. 
Iniciamos uma conversa aleatória, daquelas que a gente já ensaiou o começo, previu o meio e já sabe o fim. Ah, os fins! 
Enxergar aquele sorriso irônico jogado pro lado esquerdo do rosto mais uma vez, me fez lembrar daqueles fins de longas e esperadas semanas e no suposto fim que tivemos numa dessas.
Depois de comentarmos sobre o tempo, de como estão nossas ávidas vidas, a família, o cachorro, a crise e uma receita nova do nosso doce favorito, nos vimos compartilhando sonhos. 
É incrível como nos sentimos a vontade em dividi-los com algumas pessoas, não é mesmo? E mais incrível ainda é saber que existem sonhos em comum – sincronizados – um a um, dia a dia, lado a lado. A reciprocidade dos sonhos é uma das formas mais puras de amar. Talvez por isso a esperança seja imortal a quem não deixa de sonhar. 
Voltamos à realidade e me dei conta que já era minha hora de descer. Me despedi rapidamente e escutei sua resposta monossilábica ecoando ao longe no vagão daquela estação. Segui minha rotina sorrindo, pois naquele dia tive a certeza de que nada foi e nunca será em vão. 
Dia desses espero encontrar com ele novamente no metrô ou em qualquer lugar do mundo.

Nathalia, 
encontrando sorrisos esperançosos 
no metrô ou em qualquer lugar do mundo. 

17 de julho de 2016

Minha querida incógnita

Em minhas memórias – das mais doces às mais amargas – consigo visualizar sua silhueta por ali, escondida ou provavelmente ao meu lado. Ela é bem alta, mas é bem magrinha também, então cabe em qualquer cantinho.
Quando ela entrou em minha vida não passávamos de um metro de altura, mas desde aquele tempo costumamos voar bem alto, chegando até mesmo a pular de paraquedas em algumas de nossas histórias.
Pudera eu ter uma máquina do tempo para retornar naquelas tardes com sabor de bolo de chocolate com suco de limão em que a única casa que tínhamos que arrumar era a da Barbie. 
Alguns nos perguntam se nós nunca brigamos. Ah, meros mortais! Brigar é uma coisa muito subjetiva quando uma já colocou uma pedra dentro da boca da outra ao brincar de “abre a boca e feche os olhos”, não é mesmo? Mas com toda convicção, posso lhe assegurar que não.
Ela casou, mas enquanto seus herdeiros não entram em seus planos, o quarto que sobra em seu apartamento é meu. Da mesma forma que seu marido sabe que nossa amizade já completou bodas de porcelana e que seguimos religiosamente algumas tradições as quais ele nem ousa contestar.
No quesito coração, ela sabe de todas as minhas chamadas dramaturgias amorosas. Dos primeiros suspiros apaixonados aos últimos marejados, mas sempre acompanhados.
Por falar em companhia, ela desempenha essa função com excelência para qualquer ocasião: Dividir uma garrafa de vinho, assistir um filme aleatório no cinema, viajar para a praia em plena segunda-feira, comer os doces mais açucarados do universo na TPM, assistir a shows que nunca viu o cantor... Dentre tantas outras que não caberiam enumeradas aqui.
Ela é professora de inglês, mas não se incomoda quando eu atropelo as frases cantarolando bem alto nossa canção favorita e inclusive me acompanha com os vidros do carro abertos no meio de qualquer avenida.
Entre sete bilhões de pessoas no mundo, arrisco dizer que até então ela é que me conhece melhor. Poucas pessoas nos permitem que sejamos nós mesmos sem comedimento, como nos dias nublados que despertam uma vontade de chorar e nos dias quentes que às vezes desejamos apenas silenciar. Ela me aceita e por incrível que pareça gosta de mim assim, exatamente como eu sou.
A vida fez com que ela fizesse parte da minha família e que eu me tornasse parte da dela também. Estabelecer um laço de fato é muito difícil, porque isso qualquer um faria. Logo, prefiro a rotular como uma incógnita, um substantivo bem adequado quando os sentimentos predominam o espaço de qualquer outra palavra.

Nathalia,
para sua grande amiga Jéssica.