26 de janeiro de 2012

É sempre amor.

"Ela vai mudar, vai gostar de coisas que ele nunca imaginou. Ela vai se pegar saindo para dançar jazz com os amigos qualquer noite dessas, depois de três anos evitando a boemia, indo a um barzinho com as meninas tomar chopp e comer polenta frita, ela, que não gostava de cerveja, ela, que se embrulhava toda só de ver fritura. E vai se olhar no espelho e se achar mais magra e mais bonita, consequentemente mais vaidosa e vai começar a usar maquiagem; sim, ela que nem passava corretivo vai aprender até a usar blush. E vai querer usar mini saia e salto alto, ela que odiava as pernas; e vai querer fazer corrida todas as manhãs para manter a forma, ela sim, que tinha preguiça de exercícios e odiava levantar cedo. Mas espera que ele ligue a qualquer hora, para conversar, perguntar se é tarde pra ligar, dizer que pensou nela, estava com saudade. 
Ela vai mandar mensagem no meio de uma tarde, pra dizer que lembrou dele quando assistiu Chaves, ou mandar um e-mail lembrando quando é dia 22. E ele vai ligar no meio da noite, dizendo que o Supla está no programa do Ronnie Von, eles vão rir juntos e silenciosamente, vão sentir cada um no seu canto, falta de outros tempos. Porque é amor, mesmo que acabe; é sempre amor, mesmo que mude; é sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou. 
Ele vai mudar, escolher um jeito novo de dizer alô. Vai ter medo de que um dia ela vá se mudar, que aprenda a esquecer sua velha paixão. Ele teme que ela comece a sair com outro cara, e se apaixone, e o abrace, sorria e faça rimas de amor, como fazia pra ele, só pra ele, sempre pra ele. Ela tem medo que ele encontre outra garota para mimar, que escolha outra data de aniversário de namoro, que sinta outros gostos, que experimente novas sensações, que apresente outra namorada à família. Mas ele evita ir até o telefone para conversar, pois é muito tarde pra ligar. Tem pensado nela, estava com saudades. 
Ela ouviu a música que ele gosta outro dia no rádio, leu a tirinha de jornal que tem o nome dele e viu uma xícara do Elvis numa galeria, coisa que ele adoraria ter, ele, que fazia aniversário junto com o Raul Seixas e tinha o conhecimento mais pop e variado que ela jamais vira. E ele se lembrou dela quando viu o programa da escritora que ela queria ser, quando viu nas vitrines do shopping as roupas que ela queria ter, quando olhou numa agência de turismo a viagem que ela sonhava fazer. Nunca é muito tarde para ligar, ele pensa nela, ela tem saudade. 
Mas ela ainda vai querer vê-lo bem sucedido e vai se lembrar, com muito carinho, da colação de grau em que chorou de alegria, da família dele que gosta um tanto dela e fez de tudo para deixá-la bem. Vai se lembrar do orgulho que ela sentiu ao vê-lo formado no baile, de como seu coração inchou-se todo de dançar a segunda valsa com ele, quando ele a pegou no colo e correu atrás dela para lhe mostrar uma música e a tirou para dançar diversas vezes, e como eles se divertiram e pularam e dançaram e brincaram e se abraçaram e tiraram fotos; e planejaram se casar depois de uns anos, e juraram ser para sempre. Porque é sempre amor, mesmo que acabe; é sempre amor, mesmo que mude; é sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou."


Nathalia
autor desconhecido encontrado no meio de uma velha agenda. 

3 comentários:

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